O espetáculo-solo Senhor Diretor estreia no dia 11 de março a sua segunda temporada, agora no Teatro Poeira. Esta é a primeira adaptação teatral do conto homônimo de Lygia Fagundes Telles (1918-2022), extraído do livro “Seminário dos Ratos” (1977).
A história da peça nos apresenta Maria Emília – vivida por Analu Prestes, com mais de cinquenta anos de carreira, e sendo vencedora dos prêmios SHELL, APTR e Cesgranrio de Teatro de Melhor Atriz pelo seu trabalho no espetáculo “As Crianças”-, uma professora paulistana dos meados do século XX, que comemora seu aniversário de 62 anos caminhando sozinha pelas ruas da cidade. No passeio, escandaliza-se com as manchetes e capas de revistas numa banca de jornais. Indignada, sente que precisa tomar uma atitude. Decide então escrever uma carta ao diretor do Jornal da Tarde, relatando seu horror pelo caos da sociedade. Enquanto escreve, seu fluxo de pensamento é invadido por lembranças, fantasias e julgamentos. Seu mundo interior entra em ebulição, e ela já não é capaz de contê-lo. Resolve então se refugiar numa sessão de cinema, onde vivencia uma grande revelação.
O cenário e figurino são assinados também por Analu Prestes, e é composto por uma clássica ‘cadeira xerife’ giratória que ocupa o centro da cena, rodeada de plateia, aludindo à solidão da personagem e o clima de testemunho entre ela e os espectadores. Já o figurino de Analu expressa a sobriedade da personagem, mas com um toque moderno e irreverente que sinaliza a contradição de uma alma aprisionada. A luz de José Henrique Moreira desenha o fluxo de pensamento da heroína nos planos de realidade, alucinação e memória.
A direção e produção musical de Yahn Wagner, a partir de trilha de Silvia Monte, revisita dois clássicos que marcaram época – “Último Tango em Paris”, de Gato Barbieri (1932-2016), tema do filme homônimo; e “Moteto em Ré Menor”, de Gilberto Mendes, a partir do icônico poema concretista “Beba Coca-Cola”, de Décio Pignatari (1927-2012). As músicas pontuam as fantasias sexuais da solitária senhora.
A Silvia presenteou-me com o livro ‘Seminário dos Ratos’. Ao ler o conto ‘Senhor Diretor’, fiquei completamente fascinada, abduzida por Lygia. Uma das coisas que me encantou foi trazer a literatura para a cena, porque as pessoas vão entrar em contato com uma grande autora e ficar com curiosidade de pesquisar mais sobre a sua obra. E ao levar uma obra literária à cena, você estimula o público, mesmo quem não tem muito o hábito de ler, a mergulhar na literatura, o que é maravilhoso, vibra Analu.
Sou uma leitora de longa data de Lygia Fagundes Telles. Como encenadora, tenho bastante interesse pela interseção da literatura e do teatro. No caso de Lygia, há em sua ficção a presença marcante da oralidade, com diálogos muito bem construídos e uma carpintaria preciosa do mundo interno das personagens, conta Silvia Monte, diretora, adaptadora e idealizadora do projeto.
Fotografia Isabelle Oliveira