O ano de 2023 chega ao fim, e marca assim os momentos mais emblemáticos de nossa cena cultural. Em 2023 o Rio de Janeiro voltou a ter uma parte de sua memória recuperada com o lançamento da Revista PROGRAMA Portugal-Brasil.

O projeto nasceu em Portugal com o objetivo de prestar uma homenagem ao emblemático JORNAL DO BRASIL, no qual eu estive como crítico teatral durante os seus últimos anos de existência física, em papel jornal. Nele revitalizei o espaço da criança para o teatro infantil, criei a página Perfil do Mês, fui enviado especial e colaborei com o suplemento PROGRAMA – que vinha encartado no interior do tabloide. Aqueles, foram anos muito importantes para a cena teatral no segmento da infância e juventude.

Assim, agora a me dividir entre Lisboa e Rio de Janeiro, lancei em julho de 2023 a Revista PROGRAMA Portugal-Brasil, agora om conteúdo expresso do Brasil. Aos poucos a Revista vai tomando forma e sendo reconstruída como o nosso Brasil. Vivemos realmente em anos de reconstrução e união.

Iremos elencar, nesse primeiro ano, os projetos artísticos que mais se destacaram no teatro carioca no ano de 2023: 

1.Furacão – espetáculo que marcou a comemoração dos 25 anos da renomada Amok Teatro, consagrou a atuação e a carreira de duas atrizes, mãe e filha, em um trabalho soberbo de Sirlea Aleixo e ótimo de Taty Aleixo. …( )…Se valendo de uma cena quase nua, Brodt e Teixeira na direção, deixam todo o espaço para a interpretação excepcional de Sirlea Aleixo. Aleixo consegue tomar conta de toda a cena, e nos deixar entorpecidos pela sua meticulosa e milimétrica composição de Joséphine Linc Steelson – uma velha preta de quase cem anos, e que varre a cena na categoria 3 da escala de furacões de Saffir-Simpson, em terra firme. Todo o espetáculo é costurado por fabulosas canções e pela refinadíssima direção musical de Stephane Brodt…( )…trecho da crítica publicada no dia 11 de agosto de 2023.

2.Todas as Coisas Maravilhosas – Kiko Mascarenhas protagonizou um dos espetáculos mais arrebatadores e inovadores da temporada de 2023. …( )…Nenhuma palavra do dicionário pode descrever, de fato, o que é viver a experiência de estar presente no universo de Todas as Coisas Maravilhosas; que trata de um tema espinhoso de uma maneira tão lúcida e humana, que você sai do teatro absolutamente renovado e celebrando a vida. O quanto é maravilhoso estar vivo, para participar deste encontro único! Sim, a vida as vezes é muito difícil, mas tudo passa! Este espetáculo ficará impresso para sempre na vida de Kiko, e também na de todos aqueles que entraram na sala do Teatro Poeira, para dividir com ele dezenas de minutos da mais grande expressão do teatro da delicadeza. De todas as coisas Maravilhosas, o ator Kiko Mascarenhas, é certamente um dos números de card que todo o bom apreciador de arte já escreveu em um, ou virá a escrever! Vá ao Teatro! Viva a Vida! Viva!…( )…trecho da crítica publicada no dia 22 de setembro de 2023.

3.Brás Cubas – a Armazém Cia de Teatro foi responsável em realizar, em homenagem aos seus 35 anos de fundação, uma encenação absolutamente original e recheada de teatralidade, da obra do genial Machado de Assis. …( )…Brás Cubas é um daqueles projetos que nos fazem reafirmar a força e a potência do autor e do teatro brasileiro, e que uma ótima encenação pode nos oferecer nas tábuas do teatro; tão sacrificada nestes últimos 7 anos de obscurantismo. Um texto primoroso, em uma ótima adaptação, com uma encenação que transpira excelências técnicas e artísticas, liderados por um elenco muito bem preparado e coeso. Uma escolha de grande inteligência, este Brás Cubas, no vasto mundo da Armazém, oriunda de Londrina e radicada no Rio de Janeiro desde 1988, que agrega em 35 anos de trabalho consolidado, em sua trajetória artística, uma vasta galeria de memoráveis montagens, sendo a mais emblemática de todas elas a antológica e lisérgica Alice Através do Espelho….( )…trecho da crítica publicada no dia 28 de julho de 2023.

4.Viva o Povo Brasileiro (de Naê a Dafé)– um dos mais impressionantes musicais realizado neste ano de 2023, extraído da obra do grande escritor João Ubaldo Ribeiro. Dramaturgia e direção de André Paes Leme, músicas originais de Chico César, direção musical e trilha original de João Milet Meirelles. É impressionante a construção coletiva por Meirelles, com referências da música baiana contemporânea e da tradicionalidade, com uso de percussão, cordas, sanfona e piano. Além de três músicos e um elenco afinadíssimo e talentosíssimo, com destaque absoluto para a brilhante atuação de Hugo Germano.

5.O Pescador e a Estrela – o grande mérito do espetáculo, além da sensibilidade de toda a encenação de Karen Aciolly, é dar protagonismo à deficiência visual, mesclando o ator principal – pessoa vidente -, que interpreta um ser com deficiência visual, contando também com a participação de uma atriz com deficiência visual. Ratificando assim a primazia universal do ator/atriz em interpretar todas as personagens de nossa história real e ficcional.

Destaques individuais –

6.A plasticidade e a estética do desenho de luz de Ricardo Fujji para Helena Blavatsky, a Voz do Silêncio.

7.O desenvolvimento e delicadeza na abordagem da temática de PCD por Julia Spadaccini e Clara Kutner em Meu Corpo está Aqui.

8.A abordagem potente e ancestral de Samir Murad para O cachorro que se recusou a morrer.

9.A atuação impecável de Gustavo Damasceno em Outra Revolução dos Bichos.

10.A atuação sensível e afinada de Felipe de Carolis em Sedes.

11.A abordagem bem estruturada, e atualizada de Rodrigo França e Mery Delmond, sobre a relação entre brancos e pretos em Para Meu amigo Branco.

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