O monólogo Pedro I chega a Maricá para questionar as motivações a atitudes do monarca que desfez nossos laços com a Coroa portuguesa e transformou o Brasil em nação. Com direção de Daniel Herz e atuação de João Campany, a peça fará duas apresentações no Teatro do CEU (27 e 28 de abril), propondo uma reflexão sobre a eficácia do Governo de Pedro I, seus atos impulsivos, o início da corrupção no Brasil e o machismo que sempre esteve presente em suas relações familiares. O texto de Daniel Herz, João Campany e Roberta Brisson mistura elementos históricos e fictícios para lançar ao público a pergunta: o legado do Primeiro Império é realmente positivo? A peça foi contemplada no Edital Programa Municipal de Arte e Cultura (PROAC) da Secretaria de Cultura de Maricá, Prefeitura de Maricá.

Criada na sala de ensaio, a dramaturgia busca repensar a história do país ao revisitar os acontecimentos que construíram a sociedade brasileira. O texto tem influências do teatro de Luigi Pirandello e Bertold Brecht ao buscar o conflito a partir da relação entre dois personagens: um artista do século 21 e o Chefe de Estado do século 19. Idealizador do projeto, o coautor e ator João Campany vive ambos os papéis, que se alternam a partir de um minucioso trabalho de voz e corpo. O artista também dá vida ao Dom Pedro I na série “Brasil Imperial”, disponível na Amazon Prime Video.

A liberdade é diferente de independência. Dom Pedro proclamou a independência de um país em relação a outro, que o colonizava. Mas será que, com isso, ele realmente garantiu a liberdade das várias etnias que povoam o Brasil?, questiona João Campany. Os cidadãos maricaenses terão acesso gratuito a essa peça que ensina ao público um pouco mais sobre a nossa História. Não apenas como ela é ensinada nas salas de aula, mas com um ponto de vista atualizado, completa.

O público vai embarcar em uma viagem atemporal com dom Pedro I e o ator da peça. Juntos, eles visitarão o Palácio da Quinta da Boa Vista que pegou fogo em 2018 (o Palácio foi a residência pessoal de Pedro I, em 1820). Juntos, irão com D. Pedro a Petrópolis (cidade onde o Imperador repousava do calor dos trópicos) e verão, com ele, a cidade coberta de lama pelas chuvas de janeiro de 2022.

Ao fazer uma reflexão sobre esse período histórico, procuramos entender de onde vem muitas questões que se apresentam até hoje pra nós, como o racismo e a misoginia, por exemplo. A ideia de relembrar para não repetir os erros do passado se une à necessidade de lutar, diariamente, por uma sociedade mais igualitária, comenta a coautora Roberta Brisson.

O drama acompanha a tentativa delirante de Dom Pedro retomar o poder em 2022. No processo, ele enfrenta um artista que questiona os seus valores e sua conduta em relação ao trono. Porém, este embate não é fácil. Dom Pedro é autoritário e o ator não pretende permitir que seu corpo seja veículo para este governante de caráter e conduta duvidosos. Quem vencerá?

A peça imagina esse encontro inusitado entre D. Pedro e um ator de hoje, no meio do caos em que a gente vive. Como esse ator vai lidar com os valores e ideias de um imperador tão explosivo, envolvido em tantas polêmicas e atitudes controversas?, questiona o diretor Daniel Herz. Fazemos uma provocação a partir de pensamentos tão diferentes, e levamos à cena reflexões para a construção de um Brasil melhor, acrescenta.

Na equipe criativa, também estão Aurélio di Simoni (iluminação), Cecília Cabral (direção de arte, cenário e figurinos), Ágatha Kreisler (ilustrações, edição e adereços) e Pedro Nêgo (trilha sonora original).

Fotografia Patrick Gomez

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