Furacão é uma criação do Amok Teatro baseada na obra homônima do premiado escritor francês Laurent Gaudé. Ao apresentar personagens da comunidade negra dos bairros pobres de Nova Orleans diante da violência do furacão Katrina, que devastou o sul dos Estados Unidos, em 2005, a obra de Gaudé mergulha nos corações e mentes dos sobreviventes do Katrina. Com um discurso arrebatador, marcado tanto pela tragédia clássica como pela música popular do sul dos EUA, a narrativa do espetáculo alcança questões complexas no que diz respeito à ética, revelando que os mais pobres foram os únicos a ficarem para trás depois do alerta de tempestade. Dirigido por Ana Teixeira e Stephane Brodt, que também assinam a adaptação do texto de Laurent Gaudé, um elenco composto pelas atrizes Sirlea Aleixo e Taty Aleixo, e pelos músicos Anderson Ribeiro e Rudá Brauns.

O espetáculo coloca em cena uma poderosa personagem feminina – uma espécie de griot americana – trazendo um tema urgente: a situação dos excluídos diante das catástrofes climáticas que devastam o planeta. No coração da tempestade, Joséphine Linc Steelson, “uma velha negra de quase cem anos” enfrenta a fúria da natureza. Uma mulher marcada pela segregação racial. Uma voz que ecoa como um grito na cidade inundada e abandonada à própria sorte. O espetáculo segue a trajetória desta mulher cuja história poderia ser também a história de tantas mulheres brasileiras.

Com uma linguagem cênica híbrida, o Furacão apoia-se tanto no teatro como na música para instaurar a cena ritual e cerimonial – que caracteriza os trabalhos do Amok – onde contemporaneidade e ancestralidade dialogam para trazer uma África em diáspora: a comunidade negra do Sul dos EUA. Transitando entre a palavra e o canto, a música tem um enorme destaque na narrativa. A riquíssima cultura musical negra estadunidense (em particular, o blues) é a referência para uma trilha musical, mesclando diferentes instrumentos, sem perder de vista a sua função dramatúrgica.

Furacão fala sobre o Katrina, sobre suas vítimas e sobre os que sobreviveram, mas fala sobretudo sobre o peso da desigualdade em momentos de tragédia. Uma narrativa que mistura a gravidade do trágico com a doçura da fábula, para exaltar a beleza comovente daqueles que, apesar de tudo, permanecem de pé.

As apresentações na Arena Carioca Fernando Torres, Arena Carioca Dicró e Museu da Maré serão nos dias 8, 10 e 11 de setembro, respectivamente. A programação gratuita conta ainda com debates após o espetáculo e oficina de treinamento improvisação.

Furacão foi realizado através do Programa de Fomento à Cultura Carioca – FOCA II da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e da Secretaria Municipal de Cultura.

Fotografia Renato Mangolin

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