Com humor e ironia – e afeto, sempre -, a comédia faz uma reflexão sobre a falência do clássico “macho heteronormativo” e da urgência na reconstrução de um “novo homem”, verdadeiramente parceiro, que não se vitimize nem se sinta heroico pela sobrecarga com suas novas funções. A peça conta a história de um pai de primeira viagem nascido junto com a pandemia e toda a tensão que ela imprimiu nas relações, precipitando crises na convivência forçada entre quatro paredes.

Depois do sucesso em São Paulo, no Teatro Unimed, chega ao Rio para curta temporada a comédia dramática Muito Pelo Contrário, com texto de Antonio Prata escrito especialmente para Emilio Orciollo Netto. Com direção de Vilma Melo e Victor Garcia Peralta, a peça questiona, de forma bem-humorada, o velho e desgastado modelo de homem, em plena crise diante da liberdade crescente e dos espaços cada vez mais ocupados pela mulher. Ele tenta se entender e encontrar seu novo lugar neste mundo que ainda não conhece bem.

Rodrigo e Gabi são pais de primeira viagem. Seu filho nasce junto com a chegada da pandemia. Depois de dois anos às voltas com fraldas amamentação, madrugadas em claro e uma rotina até então totalmente desconhecida, e agravada pelo confinamento, veem-se diante de uma relação desgastada. O romance, o sexo e a alegria da vida a dois perderam-se do radar. 

Quando Rodrigo começa a achar que sua vida sexual acabou, conhece no trabalho uma mulher que lhe desperta o desejo. Culpado, ele se pergunta: qual seria a gravidade de um sexo casual com a colega? Ele não quer uma amante. Não quer se separar. Isso faria dele um parceiro desleal? Ele está prestes a ceder ao chamado do desejo, quando algo inesperado acontece e o obriga a rever todos os seus velhos conceitos. Rodrigo atende ao chamado do desejo, sim, mas de forma muito diferente da que imaginou.

O cenário de Mina Quental circunda Emilio Orciollo Netto com elementos de um típico lar de recém-nascido. Acima do ator, fileiras e fileiras de roupas de bebê estendidas. Aos lados, infinitas caixas plásticas de armazenamento, encaixadas como tijolos, formando paredes. Ao centro, ferro e tábua de passar roupa, constantemente usados pelo ator, além de uma pequena mesa com cadeiras. A trilha de Plínio Profeta desfila hits de imediata identificação com o público que falam sobre o ambiente e as memórias do personagem.

Fotografia Caio Gallucci 

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