Confinados num jogo como uma espécie de reality show, quatro finalistas – uma mãe e seu filho, e outros dois personagens, irmãos entre si – são obrigados a cumprir metas sob o comando de uma voz cujo dono nunca vemos.

Ávidos pela vitória, os jogadores embarcam num vale-tudo para entreter e conquistar o público com suas personas interessantes e histórias surpreendentes, resultado da mistura de suas vidas reais a relatos ficcionais que desembocam na exposição e no ataque mútuos.

Através da metáfora do jogo, a peça é uma lente de aumento bem-humorada sobre a relação perversa entre dominados e dominadores, alimentada continuamente por preconceitos e velhos mecanismos de exclusão. Vivemos cercados e apoiados em histórias sem, na maioria das vezes, questionar de onde vieram. O ponto de vista da “história oficial”, mesmo sendo continuamente transformado, nunca dá conta do todo. Há sempre quem fique de fora ou acabe injustiçado pela narrativa eleita.

Essa realidade foi a provocação de deu origem à META. A necessidade urgente de se ampliar as formas de reconhecimento de humanidade. A peça busca levar à cena diferentes corpos e histórias, incluindo grupos tidos como minoritários e vozes não-oficiais, promovendo uma reflexão sobre diversidade, identidade e sociedade.

A exposição da sociedade capitalista que se apropria de pautas e narrativas até as esvaziar completamente. O consumo disfarçado de entretenimento que reforça um sistema desumano que atropela individualidade e coletividade reforçando o mérito e o triunfo de um único vencedor., reflete a diretora, Debora Lamm.

A dramaturgia foi concebida a partir das experiências pessoais dos quatro atores, partindo de histórias reais para criar uma ficção que tem como base um jogo onde todos podem narrar suas próprias histórias, ora como personagens, ora como atores. 

Estruturas de poder são aqui parâmetros para a encenação de um jogo. Um reality, como espelho da nossa cultura. Uma disputa que engole subjetividades, em um fluxo constante de competição e desejo de vitória. Quem controla o jogo? Quanto vale vencer? Quais são as regras?  Em META, os sentidos e respostas estão abertos ao públicoconta André Senna.

E Daniel Toledo complementa: O trabalho dramatúrgico partiu de uma provocação sobre o universo dos reality shows como um palco contemporâneo para a disputa de narrativas biográficas. Sempre entendido como um jogo, como uma suposta competição em que sempre há vencedores e vencidos, ‘Meta’ tornou-se uma metáfora crítica e bem-humorada da vida e da exposição da vida, de uma sociedade formada por grupos e pessoas que deixam de formar comunidades a partir do momento em que – supostamente imperativas – relações de competição, concorrência e exploração se instauram.

Fotografia Reanto Mangolin 

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