Herica Veryano, é uma artista múltipla, que tem atuado com sucesso em diversos estados e municípios brasileiros; onde leva a sua arte de atriz, palhaça, oficineira, pedagoga e curadora de festivais. Tive a oportunidade em participar como crítico convidado e fundador do Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude (CBTIJ) e da Rede Nacional de Teatro Infantil (RENATIN), de uma mesa sobre o teatro para a infância e juventude no FESTIN – Edição de 2017.

Nesta edição pude conhecer mais um dos talentos da multifacetada artista Herica Veryano – que até aquele momento já havia me apresentado uma ótima performance no Festival de Curitiba, de seu delicado espetáculo Maria de uma Rima Só -; neste momento, na condução da Oficina A Contação de Histórias, o Jogo e o Sistema Coringa.

Na oficina Veryano trabalhou com poucos atores selecionados; justamente para poder exercer com primazia o princípio básico do ator coringa nos jogos. Este modelo dramatúrgico, que alterna as tradicionais relações narrativas do gênero dramático, apoiado numa proposta épica e crítica; foi criado por Augusto Boal (1931-2009) para permitir a montagem de qualquer peça com elencos reduzidos.

A montagem da peça Arena Conta Tirandentes, em 1967, aprofunda a experiência e surge explicada teoricamente em O Sistema Coringa, redigido por Boal. Para baratear a produção quanto a implantação de proposições estéticas, ligadas a um modo épico e dialético de expor a trama, o sistema evolui conceitualmente, desenvolvido para ser aplicado a qualquer texto teatral.

São quatro os procedimentos empregados no Sistema Coringa:

1.A desvinculação ator/personagem (qualquer ator pode representar qualquer personagem, desde que vista a máscara correspondente).

2.Perspectiva narrativa unitária (o ponto de vista autoral é assumido ideologicamente pelo grupo que faz a encenação).

3.Ecletismo de gênero e estilo (cada cena tem seu estilo próprio – comédia, drama, sátira, revista, melodrama, etc. – independentemente do conjunto, que se transforma numa colagem estética de expressividades).

4.Uso da música (elemento de ligação, fusão entre o particular e o geral, introdução do ingrediente lírico ou exortativo no contexto mítico e dramático).

O Coringa é uma personagem onisciente que altera, inverte, recoloca, pede para ser refeita sob outra perspectiva uma cena, sempre que sinta necessidade de alertar a platéia para algo significativo, concentrando a função crítica e distanciada. Função oposta ocupa o protagonista, o herói. Ele deve ser naturalista, fechado em sua lógica causal e psicológica, sempre representado pelo mesmo ator, destinado a criar e dar corpo à dimensão do particular típico, insuflando a ilusão cênica e materializando a dimensão mítica, uma vez que se destina à identificação e ao fomento da empatia junto ao público.

O conjunto de tais procedimentos é especialmente épico, oriundo de Bertolt Brecht (1898-1956), mas não deixa de abrigar, igualmente, uma tentativa de conciliar o historicismo proposto pelo distanciamento brechtiano com o particular típico, como concebido por György Lukács (1885-1971), outro teórico marxista que defende um herói mítico e fechado sobre si mesmo.

Assim, Veryano aplicou com segurança e ótimo resultado, nesta oficina em Cascavel-PR, todos os seus princípios básicos e essenciais para os temas propostos: a narração de histórias, o jogo e o Sistema Coringa; sistemas estes que propiciam um dialogo entre si e que têm configurações paralelas e muitas transversalidades. Fiquem sempre atentos em participar desta rica oficina, quando a mesma estiver em vossa cidade.

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