Descobertas e questionamentos envolvendo identidades de gênero e orientação sexual ganham a cena no espetáculo Gênero: Livre, com direção de Ernesto Piccolo, o monólogo é inspirado na vida da atriz Christiana Guinle, e faz nova temporada, a partir de 17 de janeiro, no Teatro Glauce Rocha, no Centro.

Durante minha juventude, eu não tinha muitas referências de pessoas que se identificassem como fluidas. No máximo, tinham as pessoas andróginas. Eu tentava entender minha própria identidade. A descoberta da não-binaridade e a possibilidade de fluir entre os gêneros foram libertadoramente perturbadoras. Contei toda a minha história para o Pedro, que usou as minhas memórias para escrever um espetáculo sobre o respeito às nossas próprias individualidades. Queremos falar do corpo sem gênero. Das roupas sem gênero. Do sexo sem gênero, descreve Christiana Guinle. As pautas identitárias no teatro são um reflexo das discussões frequentes na sociedade hoje. As pessoas estão querendo ver também em cena narrativas que falem da igualdade de gênero, combate ao racismo, sexualidade e preservação ambiental. Mas as discussões sobre gênero fluido ainda não são tão frequentes em cena, analisa o autor Pedro Henrique Lopes.

A peça passeia não só pela trajetória de Christiana Guinle, mas resgata personagens importantes no debate da fluidez de gênero: Thomas Baty (1869-1954), umas das primeiras pessoas documentadas como “não-binárie”; a atriz Rogéria, com quem Christiana trabalhou e se tornou amiga; Kaká Di Polly, ícone drag dos anos 1980 e 90; a modelo trans Roberta Close; e muitas outras pessoas que contribuíram para a (des)construção social brasileira de gênero. Todos eles estão em cena através das falas e da vivência de Christiana Guinle.

O teatro que debate assuntos sociais importantes me interessa muito, principalmente quando a gente está falando da liberdade, do livre-arbítrio, de ser quem a gente é de verdade, observa o diretor Ernesto Piccolo. Ainda temos muito que evoluir nessa questão, mas já vemos muito mais espaço para o debate de gênero hoje do que décadas atrás, completa.

Fotografia Junior Mandriola

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