A figura do gênio incompreendido acompanhou grandes nomes da arte mundial. Os conflitos emocionais, a vida desregrada, os atos passionais, os distúrbios psiquiátricos e as dificuldades financeiras estão na biografia de personalidades que entraram para a posteridade. A possibilidade de estabelecer conexões entre essas vidas turbulentas e a sociedade contemporânea motivou o dramaturgo Rômulo Pacheco a criar uma trilogia dos artistas. Com direção de Ticiana Studart, o espetáculo Um coração de Van Gogh, com estreia dia 29 de julho na Casa de Cultura Laura Alvim, inspirado em trechos da vida do pintor holandês, é a segunda parte desta trilogia, iniciada com a peça “Saliva de Rimbaud” (2015).

Apesar das dificuldades que tiveram, e não foram poucas, esses artistas conseguiram projetar suas vozes em alto e bom som, contribuindo assim de forma visceral para a construção da sensibilidade e consciência humanas. Eles foram reconhecidos artisticamente apenas depois da morte, passando por toda a sorte de acontecimentos, muitos dos quais, extremamente desfavoráveis, observa o autor.

Como um dos precursores do expressionismo, Van Gogh criou telas de tons vibrantes e imagens distorcidas. Certo desconforto provocado por essas obras inspiram o clima do espetáculo, que aborda as relações entre arte, sonho e distúrbios psiquiátricos. “Quero fazer uma reflexão sobre a neurodiversidade. O autor procurou expor essa questão por meio do personagem Thuja, que tem as características e alma de Van Gogh. Junto a alternância de humor da personagem, conhecemos quem o cerca, e percebemos como é fácil fazer mal a um divergente”, conta Ticiana

A peça acompanha a vida de Thuja (Daniel Ericsson), pintor francês da belle époque, miserável, maníaco-depressivo e que ama demais. Um gênio que vive à margem da sociedade. Faz uso abusivo de álcool e drogas. Está em crise, às voltas com o tratamento psiquiátrico da época. Falta-lhe tudo: inspiração, amor, equilíbrio emocional e dinheiro. Só não lhe falta sexo, que consegue pagando prostitutas com o dinheiro de Otto (Xando Graça), um célebre homem das artes que, encantado com a sua obra, decide ser seu mecenas. Vive em um apartamento alugado por Otto, de quem depende financeiramente e em quem deposita a esperança de alcançar visibilidade e, principalmente, o dinheiro necessário para abandonar a vida miserável. Mas Thuja põe tudo a perder quando cisma com Sylvie (Renata Gasparim), uma moça leviana e ambiciosa, e se envolve com Lua (Vitória Furtado), uma prostituta.

Tudo gira em torno de um artista profundamente tocado pela arte e pelos distúrbios psiquiátricos. Um artista que se relaciona com o mundo através da alteridade de seu olhar excêntrico, incomum e, tragicamente, incompreendido”, explica o autor Rômulo Pacheco. “Às vezes, nosso ser atrapalha a funcionalidade da vida. Talvez seja porque é dessa angústia infinda que saem as maiores obras… Um caso a se estudar, completa Ticiana.

Crédito Foto: Andrea Rocha

Serviço na Sessão Tijolinho Rio de Janeiro

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