Através da história do legista Agenor, um homem aparentemente comum, que recebe a visita de uma famosa cantora pop em busca de locação para um clipe, a peça joga luz sobre a mente do indivíduo com transtorno de personalidade antissocial, popularmente conhecido como psicopata, trazendo à tona uma reflexão sobre as mentes perigosas que nos cercam no dia a dia.

A montagem conta com a participação em off do ator Marco Nanini, interpretando o personagem na sua fase mais velha.

O cotidiano está repleto de pessoas com quem convivemos diariamente, com maior ou menor proximidade, na vida familiar, no trabalho, na mesa de um bar ou em qualquer outra ocasião rotineira. A verdade é que, na maioria das vezes, pouco ou nada sabemos sobre a intimidade de quem nos cerca. Aqueles personagens que assombram nosso imaginário em filmes e séries, e a quem julgamos sempre tão longe de nós, na realidade podem estar mais perto do que supomos.

A peça Baseado em uma história real, – com dramaturgia e atuação de Paulo Verlings e direção de Camila Pismel -se debruça sobre esta possível (e assustadora) proximidade e busca entender como estas pessoas se fazem invisíveis em nossos mais variados meios de convívio.

A ideia de se debruçar sobre um tema tão complexo como a psique humana é um desafio gigantesco. Falar sobre o transtorno de personalidade antissocial é se lançar em um universo amplamente provocador. É como usar uma lente de aumento em nossa sociedade e começar a perceber o nosso entorno, e que no nosso dia a dia não estamos distantes dessas mentes. Pelo contrário, convivemos constantemente com elas., afirma o autor e ator Paulo Verlings, que construiu a dramaturgia a partir de uma seleção de histórias reais.

Numa jornada que vai da infância até a vida adulta, somos apresentados a Agenor, um legista de meia-idade cujos segredos mais sombrios são ocultos por trás de uma fachada impecável. Ele recebe em seu local de trabalho, o necrotério, uma famosa cantora pop em busca de uma locação nada óbvia para seu novo clipe. A presença da estrela desperta desejos e sensações até então desconhecidos por Agenor, e o encontro toma um rumo inesperado.

O desafio está em como colocar no palco um tema tão difícil. Ter uma visão teatral sobre a maneira de ser desses indivíduos e o impacto que isso tem na sociedade, buscando aumentar a conscientização sobre essas condições. Além da relação entre a criminalidade e os transtornos mentais, através de fatos reais e analisando o papel da justiça na abordagem desses casos. É ficção, mas a realidade pode estar na porta ao lado, reflete a diretora, Carolina Pismel.

A peça se inicia com a voz em off de Marco Nanini, como Agenor mais velho, aos 70 anos. O cenário de Mina Quental é branco e frio, com uma maca de metal e uma composição/instalação de lâmpadas tubulares brancas. A luz de Paulo Cesar Medeiros, em diálogo com o cenário, mantém a atmosfera de frieza. O figurino de Karen Brusttolin veste o ator com um jaleco não realista. A direção de movimento é de Toni Rodrigues e Monique Ottati, e a trilha sonora de João Vinicius Barbosa. Há ainda a participação em off da psiquiatra Vivianne Luz, intervindo com uma visão técnica e científica da patologia antissocial. A produção é da Ártemis Produções Artísticas.

Fotografia Dalton Valerio

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