O clássico de George Orwell recebe nova encenação, com um único ator em cena, Gustavo Damasceno, que se vale somente do trabalho corporal e de sua técnica como mímico. Transformada em solo por Bruce Gomlevsky, que embarca na aventura de se autoimpor um desafio cênico: numa espécie de “Dogma 95” do teatro, depois de uma montagem exuberante d’A Revolução dos Bichos em 2022, com 20 atores num palco repleto de feno e múltiplos efeitos de luz, ele dirige agora esta nova versão.

Grande influência no trabalho de Bruce Gomlevsky desde os anos 2000, Dogma 95, movimento do cinema dinamarquês criado em 1995 pelos cineastas Lars Von Trier e Thomas Vinterberg, buscava o resgate de um cinema essencial, livre de artifícios, focado na história, no desempenho dos atores e na autonomia criativa dos diretores. Uma resposta aos blockbusters com grandes orçamentos e excessivos efeitos especiais.

“Animal Farm”, fábula sobre um grupo de animais que se rebela contra a exploração por parte dos humanos, é inspiração para uma reflexão sobre as estruturas de poder. O romance “Animal Farm”, lançado em 1945 pelo escritor, jornalista e ensaísta George Orwell (1903-1950), um clássico contemporâneo, é um dos livros mais lidos do mundo. O texto de Orwell é uma fábula sobre um grupo de animais que se rebela contra o dono da fazenda e a exploração por parte dos humanos.

A obra, uma alegoria sobre o totalitarismo, mais especificamente sobre os rumos tomados pela Revolução Russa de 1917, converge com a pesquisa temática da peça, que se debruça sobre a relação entre as estruturas do poder – nas esferas pessoal e coletiva -, e sobre a questão do totalitarismo no mundo de hoje

Os animais, cansados da exploração na fazenda em que vivem, organizam um movimento, expulsam os humanos e acabam por tomar o controle do espaço. Com o sucesso da missão, surge o Animalismo, regime em que todos os animais seriam iguais em direitos. Porém, uma vez implementado o novo sistema, sem a presença de humanos e com a liderança dos Porcos, aos poucos começam a emergir a sede de poder e a tolerância à corrupção.

Nesta nova versão em formato de monólogo, o ator Gustavo Damasceno dá vida ao protagonista e narrador da história, o porco Napoleão, além de se desdobrar nos inúmeros personagens da fazenda que compõem a icônica fábula de Orwell. A pesquisa cênica se concentra na descoberta de uma expressão corporal e vocal para a composição dos personagens-bicho, aprofundando assim, a pesquisa da Companhia sobre o afastamento do naturalismo interpretativo.

Antes, 20 atores em cena. Agora, um monólogo. Neste novo espetáculo, há uma busca pelo que há de mais essencial no teatro. Deste modo, toda a teatralidade e potência cênica se revela no corpo-voz do ator, ao mesmo tempo em que abro mão, como encenador, da maquiagem/caracterização, da música pré-gravada, de efeitos de luz complexos e mesmo de um cenário construído, transformando assim a falta de recursos em criatividade e poder de síntese.”, explica o diretor.

Fotografia Michel Langer

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *