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Amélia uma Aventura Musical nos apresenta um jovem grupo de atores, que venceram o seu primeiro edital e montaram assim o seu primeiro espetáculo. Podemos perceber o diferencial desse projeto já na formação da sua ficha técnica, onde temos a mescla de novos talentos com nomes dos mais consagrados em nossos palcos como: Sueli Guerra na direção, Paulo Cesar Medeiros na iluminação e Vladimir Pinheiro na direção musical. O teatro é indubitavelmente a arte do coletivo; e a presença deles, é o que encaminha justamente o projeto a um lugar diferenciado de concretização e realização.

Amélia é uma garota criativa e destemida. Ela vive em um mundo muito metódico e repetitivo, enquanto se esforça para corresponder às expectativas de sua mãe, a exigente Berenice. Em sua busca por um lugar onde ela possa se expressar de forma livre e divertida, ela se transporta para reinos além de sua realidade: os Reinos da Música, da Palavra e da Dança. Nessa aventura, ela se depara com personagens mágicos que a ajudam a desenvolver sua autoconfiança e sensibilidade. Ela descobre que tem o poder de transformar sua realidade e que essa força não existe só em si mesma, mas em todas as pessoas, independente do corpo ou da idade, assim nos diz a sinopse da peça.

O texto de Lucas Leal, e em coautoria de Gabriela Tavares e Renato Ribone, apresenta ideias muito interessantes, como a sua premissa principal que tem estrutura muito comum aos clássicos do teatro – onde um ser passa por experiências únicas – , em encontros com seres fantásticos, para que seja promovida uma transformação. Entretanto, o texto, concebido a seis mãos, tem uma escritura frágil em seus diálogos; ao incorporar situações muito cotidianas e com apelo de fácil reconhecimento, tanto no mundo fictício real, como no mundo fantástico. Como por exemplo na escolha das letras de músicas postas em diálogos. Escolhas de textos que o afastam assim de uma poética, e de construções que o dariam mais teatralidade. Tornando-se assim tudo mais simples, com resolução rápida, e com exploração de um certo didatismo no linguajar.

Apesar da fragilidade da dramaturgia, a sensível direção de Sueli Guerra- aliada a certeira luz de Paulo Cesar Medeiros e a ótima direção musical de Wladimir Pinheiro – consegue desenhar personagens potencialmente fortes, bem dirigidos e que cumprem com precisão, delicadeza e muito talento as suas missões em atuar, dançar e cantar. Graças a todo esse material humano é que foi possível alcançar um resultado tão expressivo, e que nos saltam aos olhos, em vermos tanta verdade, vontade e entrega na execução de suas ótimas partituras e na limpeza sonora, em dicção, volume e equalização – mérito da Microfonista Ingrid Procópio, do Som Designer Rodrigo Oliveira do Operador de som Rel Rocha e da Sonorização: 220 Decibéis- Soluções em áudio. Colaborando assim para que os os jovens atores Gabriela Tavares, Lucas Leal e Renato Ribone tenham atuação de muito bom nível; além de contar com a presença luxuosa da atriz e bailarina Sueli Guerra.

A direção de arte de Victor Aragão, realizada potencialmente em tecidos de malhas – que constroem mundos aleatórios -, consegue ficar em segundo plano. Assim como o uso de pequenos cubos cenográficos – para criarem cama, mesa e pedestal – , deixam também a encenação desproporcional; devido ao uso comum de referido material. Devido a força alcançada pelo quarteto de atores, sentimos, que na falta de possibilidade de uma construção cenográfica a altura da encenação, seria tão absolutamente agradável que todo o espetáculo fosse realizado apenas na geografia espacial do desenho de luz, na precisão da direção de movimento e na sugestão que os figurinos trazem para cada ambiente atuado: os reinos da música, da palavra e da dança.

Muito importante destacar também a presença carismática e simpática da intérprete de libras da Integrando Libras. Estando ela completamente bem integrada no espaço do espetáculo. Dando um bom exemplo de como a inclusão pode, e deve, ser feita com respeito à cena e a todos os espectadores presentes: aqueles que precisam da linguagem e os que não precisam fazer uso dela.

O que fica, para nós, ao final do espetáculo, é a boa sensação de leveza, e de descoberta de que estamos diante de um ótimo material humano e verdadeiro. Um elenco de verdade. De novos talentos do teatro musical carioca; e que acredito que terei ainda muito prazer em vê-los atuar por muitas décadas, à frente. Isto é só o começo! Sigamos fortes!

Foto: Yuri Izar

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