Baseada no romance homônimo de Maria Valéria Rezende, finalista do Prêmio Jabuti 2020, a montagem é uma adaptação idealizada e protagonizada por Ana Barroso. Com direção de Fernando Philbert, a peça explora a narrativa de Isabel, uma mulher do século XVIII confinada em um convento por sua luta contra as injustiças e opressões da época. A trama foca na carta fictícia escrita por Isabel à Rainha Maria I de Portugal, conhecida como Rainha Louca. Em seu texto, Isabel busca expressar a dor e as injustiças vividas por mulheres e escravizados, revelando as crueldades de um sistema patriarcal e colonial. A peça retrata a luta de Isabel para manter sua identidade e liberdade, mesmo em meio às adversidades, assumindo identidades masculinas para exercer seu talento com a escrita. Ana Barroso traz à tona a voz de uma mulher desafiadora e ousada para sua época.

A direção de Fernando Philbert realça a força e a resiliência da protagonista, destacando a importância da luta feminista ao longo da história. A temporada da peça segue até 13 de setembro no auditório do Sesc Pinheiros. As apresentações ocorrem de quinta a sábado, sempre às 20h, com ingressos a partir de R$12. No dia 7 de setembro, a sessão será excepcionalmente às 18h.  

Convento do Recolhimento da Conceição, Olinda, 1789. Isabel das Santas Virgens está enclausurada, acusada de loucura e rebeldia por lutar pela sua autonomia numa sociedade patriarcal colonial. Ela escreve uma carta à Rainha Dona Maria I, conhecida como a Rainha Louca, com quem se sente irmanada na opressão pelo mundo dos homens. Tida por muitos como também lunática, Isabel relata os destemperos e injustiças praticados pelos homens da Coroa – e por outros tantos – contra mulheres, escravizados e todos que se encontravam em situação de vulnerabilidade.  

Isabel das Santas Virgens foi uma menina branca, filha de portugueses pobres recém-chegados ao Brasil para trabalhar num engenho de cana de açúcar no Recôncavo Baiano. Com a perda precoce dos pais, é criada entre a senzala e os aposentos da jovem sinhazinha Blandina, filha única do poderoso Senhor do Engenho. Com o passar dos anos, Blandina e Isabel, já crescidas, se apaixonam pelo mesmo homem, o aventureiro Diogo. A sinhazinha acaba se entregando ao “pecado da carne” e é punida, junto a Isabel, com a clausura num convento. Mais adiante, com a morte de Blandina e já em liberdade, Isabel assume uma identidade masculina para atuar em trabalhos que envolviam a escrita e não eram permitidos às mulheres, e acaba novamente presa.  

A personagem é uma heroína feminista: sem recursos ou proteção de quem quer que seja, enfrenta perigos e desafios munida de suas únicas ferramentas: a inteligência e a capacidade de ler e escrever, adquirida durante a convivência na casa grande.  Com suas cartas, Isabel expõe, com algum humor e uma boa dose de ironia, o pano de fundo da colonização brasileira e da situação da mulher que ousava desafiar o status quo. Foi subjugada de todas as formas porque ousou ir além do que lhe era permitido. É a história da luta de uma mulher por sua própria sanidade – através das palavras e do exercício de organização mental, é capaz de manter um pouco de si, escrevendo, escrevendo e escrevendo. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *