Os fins justificam os meios? Não se faz omelete sem quebrar os ovos? O sacrifício de alguns é necessário para o bem de muitos? Sou um profissional e estou só executando ordens? Um projeto coletivo é maior que a vida de um indivíduo?

As perguntas acima, tão comuns quanto inquietantes, são matéria-prima de Realpolitik, peça de Daniela Pereira de Carvalho (“A menina escorrendo dos olhos da mãe”), que toca em feridas ainda abertas no Brasil de hoje. Perguntas mal respondidas, responsabilidades mal atribuídas, injustiça.

RealPolitik (em alemão “política realística”) refere-se à política ou diplomacia baseada principalmente em considerações práticas, em detrimento de noções ideológicas. O termo é frequentemente utilizado pejorativamente, indicando tipos de política que são coercitivas, imorais ou maquiavélicas. 

A peça reflete sobre o custo de uma vida no negócio das grandes corporações, e pretende refletir sobre a falência do homem branco hegemônico e predador, amoral, que dispõe sem cerimônia dos recursos naturais e humanos em nome do lucro. A discussão não é nova, mas ainda segue na ordem do dia uma vez que o meio ambiente, e consequentemente seus habitantes, se encontram em situação limite.

RealPolitik é uma acusação. Uma crítica à hegemonia capitalista, construída no interior das relações corporativas. Enquanto barragens desmoronam, devido à ação de mineradoras, cidades e pessoas são soterradas, mortas, eliminadas do mapa. Essa peça é uma tentativa de provocar outro desmoronamento. Criar rachaduras nas desculpas esfarrapadas, nas manobras jurídicas que as empresas usam para se safar das responsabilidades ambientais e humanistas, reflete a autora, Daniela Pereira de Carvalho.

Estas reflexões encontraram eco em Guilherme Leme Garcia, diretor: Aceitei o convite do Pedro (Osório, ator e idealizador) para dirigir, pois considero um texto extremamente urgente e necessário, bela dramaturgia da Daniela

Nesse acerto de contas, entretanto, há brechas no teatro para a existência de um possível lugar de convívio cordial, de soluções e boas práticas individuais. Quem sabe, talvez, no meio corporativo, um despertar de consciência de boas práticas, conclui Pedro Osório, ator, idealizador e realizador do projeto.

Após o rompimento de uma barragem com mais de uma centena de vítimas e milhares de pessoas desalojadas, o jornalista Rafael (Augusto Zacchi) vai entrevistar Henrique (Pedro Osório), CEO de uma grande empresa de mineração MBS – Mineradora Brasileira do Sudeste. O confronto entre os dois, com visões opostas de mundo, toma um rumo inesperado e caminha para um desfecho trágico.

A peça estreia no dia 14 de janeiro, no Teatro Poeira, às 20h.

Foto Raíssa Nashla

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