Estreia no dia 27 de setembro, sexta-feira, no Teatro Adolpho Bloch, na Glória, Rio de Janeiro, o espetáculo A Última Sessão de Freud, dirigido por Elias Andreato a partir da comédia do americano Mark St. Germain. O espetáculo traz o encontro fictício entre Sigmund Freud (Odilon Wagner) e o escritor C.S. Lewis (Marcello Airoldi), para mostrar que é possível que duas pessoas que pensam absolutamente diferente, se sentem, conversem e se respeitem.

A trama do premiado autor americano Mark St. Germain apresenta um encontro fictício entre Sigmund Freud (Odilon Wagner) e o escritor, poeta e crítico literário C.S. Lewis (Marcello Airoldi), dois intelectuais que influenciaram o pensamento científico filosófico da sociedade do século 20. Durante esse diálogo, Freud, crítico implacável da crença religiosa, e C.S. Lewis, renomado professor de Oxford, crítico literário, ex-ateu e influente defensor da fé baseada na razão (autor de clássicos como O Regresso do Peregrino e a trilogia infanto-juvenil As Crônicas de Nárnia), debatem de forma apaixonada, o dilema entre ateísmo e crença em Deus. Freud quer entender por que um ex-ateu, um brilhante intelectual como C.S. Lewis, pode, segundo suas palavras, “abandonar a verdade por uma mentira insidiosa”, tornando-se um cristão convicto.

No gabinete de Freud, na Londres de 1939, o pai da psicanálise, e o escritor C.S. Lewis conversam sobre a existência de Deus, mas o embate verbal se expande por assuntos como o sentido da vida, a natureza humana, sexualidade, religião e relações humanas, nenhum assunto é tabu ou complexo demais para esses intelectuais, resultando em um espetáculo que se conecta profundamente com o espectador através do humor, da sagacidade e do resgate da escuta como ponto de partida para uma boa conversa. O sarcasmo e ironia rondam toda essa discussão. As ideias contundentes ali propostas nos confundem, por mais ateus ou crentes que sejamos.

O interessante é que todos esses temas existenciais não são papo-cabeça. A peça não é feita para bolhas de intelectuais, filósofos, psicólogos ou religiosos; é feita para o público. Não é aula, não precisa conhecer a obra deles para curtir o espetáculo. É uma discussão que todo ser humano, uma vez ou outra na vida, já teve sobre esses temas, destaca Odilon Wagner.

O texto de Mark St. Germain é baseado no livro Deus em Questão, escrito pelo Dr. Armand M.Nicholi Jr., professor clínico de psiquiatria da Harvard Medical School, que aborda as diferenças filosóficas entre Freud e Lewis. Após a leitura, St. Germain imaginou que aquelas enormes diferenças poderiam dar um bom confronto dramático.

Eu sabia que, para a plateia aceitá-los, eles tinham que ser pessoas, não ícones. Injetar humor foi a maneira de fazer isso. A peça mostra um embate de ideias. Isso é uma armadilha, e eu não queria que o espetáculo se transformasse em um debate. Por isso, pelo bem da ação dramática, situei o encontro entre Freud e Lewis no dia em que a Inglaterra ingressou na Segunda Guerra Mundial. Então, são dois homens no limite, sabendo que Hitler poderia bombardear Londres a qualquer minuto, declara Mark St. Germain.

O diretor Elias Andreato optou por uma encenação que valorize a palavra, construindo as cenas de modo que o texto seja o protagonista e as ideias estejam à frente de qualquer linguagem.

“O Teatro é uma forma de arte onde os atores apresentam uma determinada história que desperta na plateia sentimentos variados. É isso o que me interessa: despertar sentimentos e acreditar na força de se contar uma história. É muito prazeroso brincar de ser outro e viver a vida dessa pessoa em um cenário realista, com figurino de época, jogando com ficção e realidade. Isso é uma realização para qualquer artista de teatro. E é assim que defino essa experiência de me debruçar sobre a obra teatral de Mark St. Germain”, comenta Andreato.

O cenário citado pelo diretor é assinado por Fábio Namatame, foi indicado ao Prêmio Shell Melhor Cenário e reproduz o consultório onde Freud desenvolvia sua psicanálise e seus estudos. Ele estava exilado na Inglaterra depois de ter fugido da perseguição nazista na Áustria, em plena segunda guerra mundial, no ano de 1939.

Marcelo Airoldi, intérprete de C.S. Lewis, se refere a peça como um verdadeiro elogio ao diálogo: “Freud e Lewis são pessoas com ideias completamente diferentes, mas sendo inteligentes podem dialogar. Ideias diferentes são muito melhores do que ter uma ideia só.”

Odilon Wagner complementa o colega de cena: “É uma discussão que não tem vencedores. A coisa mais bonita do espetáculo é que ninguém ganha de ninguém, o que é mais interessante é que as reflexões chegam para cada um sair com suas convicções, para alimentar as suas reflexões. E que é possível que duas pessoas que pensam absolutamente diferente sentem, conversem e se respeitem.

Professor de Literatura e Teatro da UFMG, Paulo Bio Toledo segue o mesmo campo de reflexões dos atores: “É a discordância dialética entre ambos que instaura a vontade de construir e formular argumentos. É ela que provoca e que movimenta o pensamento. Na atualidade regida pela intolerância, a peça faz lembrar que um momento importante da construção de nós mesmos se dá apenas quando nos deparamos com algo radicalmente diferente de nós, com um outro.”

Por sua atuação no espetáculo, Odilon Wagner foi indicado aos prêmios Shell, APCA e Bibi Ferreira, na categoria melhor ator.

A Temporada vai de 27 de setembro a 20 de outubro de 2024, sextas às 20h, sábados às 17h e 20h e domingos às 17h. Vendas online: www.freud.art.br 

Fotografia João Caldas

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